Conversa com Julieta

Julieta sentou calma entre as folhas amareladas no seu quarto, quantas cartas, quantas linhas, tantas letras e significados, alguns um tanto verdadeiros, outros um tanto caridosos. Ela pega com carinho uma das cartas e lembra o quanto doeu. O fim, Julieta? Não, ela me olha sorrindo com os olhos baixos. Não houve fim, por isso dói. Ficou no ar, a dor, a saudade, o esquecimento e por fim o não gostar mais. E quanto a esta carta? Pergunto retirando uma de cima de sua perna com um papel de bala grampeado. Esta? Ela olha demoradamente e joga num canto, doce demais, se é que me entende, falso demais também. Te enganou? Eu resolvo ir mais a fundo, mas ela apenas balança a cabeça negativamente e diz, não, eu que enganei. Como assim? Disse sentir o que nem sentia, ou sabia que poderia existir, ele em sua busca por amar verdadeiramente, esbarrou em mim pela minha busca de querer todos verdadeiramente.
Ficamos as duas paradas, observando o desenrolar das letras, então ela disse, como a me confessar algo. Gostei muito dele sabe, até achei que poderia ser especial de alguma forma, mas... Ele foi embora, com ar de não volto nunca mais e eu? ha, ela riu, eu fiquei a esperar, mesmo ouvindo o que todos diziam: "fecha a porta menina, o que o vento levou só ele traz." E o vento trouxe? Eu me arrisco a perguntar. Não, ela disse triste, o vento nunca mais soprou por esses lados, quando a cortina balança eu corro para a janela, nada, nem na estrada, no céu, ou na alma.
Te deixou assim? Nada mais justo, ela respondeu me encarando, ou se ama junto ou nada feito, eu não sei amar junto, sou tão egoísta. Mas repara neste quarto, falei preocupada, por ser egoísta acabaste apenas com cartas, não pensas em mudar? Até penso ela respondeu suspirando, só que ainda amo muito todos que partiram e levaram um pedaço de mim. Sente falta de ti mesma? Não, presta atenção, ela disse, sinto falta dos meus pedacinhos, que não significam apenas eu, e sim meus pedacinhos de homens. Não quero apenas um, sou tão egoísta, quero todos os pedacinhos. O que tu queres, respondi sorrindo, é a boemia.


Camila Meneghetti

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