Levadeira de moinho


“O vento leva”

Um castelo de cartas, uma casinha de dados, uma ilha de dominós – derruba. Nomes na areia, o sopro n´água, pegadas no chão – arrasta. Sonhos, agrados, doces desejos – leva. O vento leva para longe. Leva, e às vezes nos contempla com sua volta. A volta por vezes desejada, a volta às vezes não querida – destrói. Reduz a pedaços àquilo que se levou tempo para erguer, não se importa com o sofrer – porque, no final, o abraço mais provável é aquele que termina com as nossas mãos postas sob as costas.

Ele emaranha a blusa feita num fiar cauteloso, faz manchar a manga da camisa. Leva a paz e deixa o grito – e, se mais forte, chamamos de redemoinho. Redemói aquele olhar, aquelas palavras, aquele amor. Por ora, faz do silêncio o melhor remédio.

O vento é nosso amigo, em vezes… leva para junto de quem se quer, aproxima a lembrança distante, faz novear a bobice velha. Mas o moinho não; nunca. Ele se disfarça de brisa, arranca um sorriso das mentes taciturnas, faz atenuar a filáucia para dar lugar a novas novices. A gente se desarma, pensa que o vento mudou de direção, que o melhor veio – mas, sem dar de ombros, o redemoinho vem e vai, não deixa nada que se valha. E a gente, ingênua gente, coloca a culpa no vento; é, é muito mais fácil achar que as coisas acontecem de acordo com a sua direção, e que somos isentos de qualquer responsabilidade sobre.

A culpa é do moinho, minha gente, do redê – que, na vela do levar, rói, remói, redemói, e não deixa vestígio de pavio pra gente poder acender àquilo que o vento apagou.

Eu quis querer o que o tempo não leva, para que o vento só levasse o que eu não quero. Eu quis amar o que o tempo não muda, para que, quem eu amo, não mudasse nunca. (a.d.)

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